A gente vai aprendendo a se virar, encontra outro caminho, sempre. Afinal, na vida, não temos uma espada mágica e um novelo para o caminho de volta, só podemos ir em frente. Resta caminhar por esse labirinto, seguindo, seguindo…
Denise Stoklos esteve em Cascavel no início dos anos 90. Era um período luminoso da cultura em nossa cidade, onde Wanderlei dos Anjos e Neuri Mossmann nos brindavam com pelo menos duas peças de teatro por ano, e o secretário Luiz Ernesto Meyer Pereira ensinava como se devia produzir arte e cultura na região Oeste, motivando e incentivando os novos talentos. Denise, escritora, diretora e atriz, falava da necessidade do amor à Terra, da urgência do amor no coração e em cada casa habitada, afinal a morte, com sua sombra exigente, impera irremediável, sempre adiante, prometida.
Em seu livro “Amanhã será tarde e depois de amanhã nem existe”, ela prometia encenar uma história de amor sem desfecho, apenas com início: uma casa na montanha com o mar em frente. Na coreografia inesquecível que ela apresentou no Sesc, dançava e imitava alguém buscando uma saída, como se estivesse num labirinto. Ela me disse, ao autografar seu livro: “a vida não espera, o tempo é curto, e o que encontraremos no final desse labirinto, numa jornada que é fundamentalmente individual, já sabemos (ou pelo menos desconfiamos) do que se trata…”
Com a ideia de que a vida é mesmo um labirinto, procuro, em minha pequena biblioteca, uma obra chamada “No Labirinto, com o Minotauro”, mas não encontro, está perdida em meio a tantas outras. No labirinto da mitologia grega, a apaixonada Ariadne dá a seu amado Teseu uma espada mágica e um novelo, que utiliza para marcar seu caminho de modo que possa retornar por ele. O herói então mata o Minotauro, um ser poderoso que vivia no centro do labirinto, e volta para os braços de seu amor.
Jogos educativos e recreativos infantis que utilizam o conceito de um labirinto imaginário são comuns, assim como religiosos (“ajude o Joãozinho a encontrar o caminho para a igreja”, por exemplo). O tema é também comum na música brasileira. “Labirinto”’, na voz de César Menotti & Fabiano, fala de sonhos e planos perdidos, mas que “pode deixar do jeito que tá, eu posso me virar sozinho, posso achar outro caminho”. Mas afirma: nesse labirinto, a solidão não tem saída… É isso aí, a gente vai aprendendo a se virar, não é mesmo? A gente encontra outro caminho, sempre. Afinal, na vida, não temos uma espada mágica e um novelo para o caminho de volta, só podemos ir em frente. Resta caminhar por esse labirinto, seguindo, seguindo…
Dr. Márcio Couto – Cardiologista – CRM – PR 14933