Durante muito tempo, o meu conceito de felicidade esteve ligado a tudo o que li na obra-prima “O Profeta”, do pintor e escritor libanês Gibran Khalil Gibran, publicada pela primeira vez em 1923. É um dos meus livros de cabeceira; de tempos em tempos o releio com o mesmo encantamento. É, também, um dos meus presentes favoritos. Sugiro esta leitura, que lhe trará muita satisfação. Gibran trabalhou como pintor de retratos e desenhos a bico de pena e aquarelas, depois escreveu novelas e poemas, como “The Perfect World” (O Mundo Perfeito), datado de 1915. Nas páginas, um personagem profeta, que certamente inspirou Chico Anísio na criação do seu também personagem profeta, encontramos a definição de amor, casamento, filhos, perdão, doação, o significado do comer e do beber, a alegria do trabalho, o pêndulo da alegria e da tristeza, a casa que é nosso abrigo no mundo, as roupas que usamos, o comprar e o vender que movimentam a economia e fazem o mundo girar, as leis que criamos para facilitar a vida, a liberdade, o eterno conflito entre a razão e a paixão, o ensino, a amizade, a comunicação, o entendimento da passagem do tempo (o Tempo, senhor de tudo), o prazer e a beleza, a oração e a religião, a liberdade, o auto-conhecimento, enfim, uma leitura que traz, especialmente, felicidade e paz.
A escritora Lya Luft, nas páginas da revista Veja, disse que a felicidade é um estado de espírito, não depende de atributos físicos. E disse mais: a inteligência pode até atrapalhar a sensação de felicidade, ou seja, nada de analisar ou ficar muito reflexivo. Ela concluiu que, quanto mais se quer, mais se prepara a própria frustração, e se decreta, assim, a dificuldade de ser feliz. E que uma boa rima para felicidade pode ser simplicidade.
Os poetas-filósofos da música popular brasileira, Tom Jobin e Vinícius de Moraes, fizeram uma linda canção para o filme de Marcel Camus, em 1959, “Orfeu do Carnaval”, lamentando o caráter passageiro da felicidade (“tristeza não tem fim / felicidade sim”); sua letra ostenta alguns dos mais belos versos da nossa música: “A felicidade é como a gota / de orvalho numa pétala de flor / brilha tranqüila / depois de leve oscila / e cai como uma lágrima de amor…”.
Bem, mas cada pessoa tem um conceito sobre o que é a felicidade e como conquistá-la. A chave de tudo está na maneira como lidamos com os problemas de nosso dia a dia. O autor do livro “Felicidade: Lições de uma nova ciência”, Richard Layard, afirma que existem dois conflitos que precisam de solução: a forma como interagimos com nós mesmos e a forma como interagimos com os outros. E que as pessoas são mais felizes se forem capazes de apreciar o que têm, seja o que for, e se não estiverem sempre se comparando com os outros.
Lair Ribeiro, que abandonou a medicina para virar palestrante da auto-ajuda, dá várias dicas para que alcancemos a felicidade. Entre elas: gostar de si mesmo, valorizar nossas raízes, agradecer pelo que se tem para obter o que se quer, cuidar do corpo – que é o templo da alma, fazer aos outros o que eles querem que lhes seja feito, concentrar-se naquilo que se quer, fazer o que se gosta e gostar do que se faz, usar o dinheiro como instrumento espiritual, trocar a dúvida pela certeza, ser ambicioso ajudando o próximo, e ser impaciente.
Concluo que a felicidade não tem receita, é algo que se pode encontrar na vida de cada um de nós, uma sensação muito próxima ou distante, conforme o ponto de vista de cada pessoa. Breve primavera, ou sensação constante, depende de você.
Dr. Márcio Couto – Médico Cardiologista
CRM-PR 14933 membro da diretoria da AMC