O Mar sou Eu

Desde bem tenra idade, por volta dos 11 meses de vida, eu estive com o mar. Uma das minhas primeiras fotos é sentado na beira do mar brincando. Eu cheguei e sentei sem cerimônias porque eu sabia que o mar era meu amigo. E ele sempre foi meu amigo.

Tive o privilégio de crescer perto do mar e por isso nunca senti medo dele.

Então eu penso que o mar sempre esteve comigo, mesmo agora anos depois de morar mais afastado no interior.

Mas sempre que nos encontramos, eu e o mar, ele me reconhece e me dá boas-vindas. Ele acalma a minha alma como poucas coisas nessa vida. É energia pura, aquela vida toda pulsando. Os seus habitantes tão peculiares me fazem rir. Rir de alegria pura, sem nenhum tipo de inibição.

Riso de contentamento. O mar ri para mim também. Suas ondas quebrando. Sua gargalhada constante e suave.

O mar também tem muitos mistérios mas isso não me preocupa. Eu não me intrometo nisso porque amigos são assim. Amigos simplesmente confiam e seguem, onda após onda.

O mar e o sal refrescam tudo. O mar me adoça mesmo sendo salgado. Recarrega as baterias para uma nova jornada. Ele fica comigo mesmo quando eu me afasto.

Alguma coisa me diz que um dia eu vou voltar a morar perto dele. Não é apenas vontade, é uma força, magnetismo mesmo.

Lembro que uma vez eu quase morri no mar. Eu pegava ondas, uma prancha de bodyboard, era uma onda alta e eu não consegui ultrapassá-la. Ela me levou para baixo. Entrei num vórtex de tontura e não sabia mais onde estava a superfície. Mas consegui sair. Fiquei assustado, mas continuei lá com o mar e ele deve ter dado uma gargalhada. Coisa de amigo mesmo eu acho.

A sua cor hipnotizante. O verde clarinho até o verde mais escuro até o azul infinito imbricado lá longe com o céu. Eu paraliso ali e apenas admiro. Porque tranquilidade maior não há.

Não é à toa que a vida surgiu no mar. Isso é óbvio. Teria que ser assim.

Aquela grande explosão de moléculas se agregando, proteínas, células e pequenos seres. Eles ainda estão lá, desde o início nos seguem. O mar é nosso grande pai, nossa origem.

Hoje eu preciso ir embora de novo. Vou lá me despedir do mar. Eu sei que ele não vai estar triste como eu. Eu sei que ele vai ficar comigo e eu com um pouquinho dele até a próxima vez que nos vermos. “Ó mar salgado, quanto do teu sal…” como diria aquele poeta. Quanto do teu sal está comigo sempre?

Levo esse velho amigo na retina. Nessas memórias que nunca acabam.

Ele sou eu e eu sou o mar.

Caê Martins  CRM/PR – 20965.

Carlos Eduardo dos Santos Martins.

Anestesiologista e Clínico geral.