O ar entra, o ar sai. A vida se renova em cada sopro. Mais do que uma necessidade, a respiração é uma porta ou uma janela, ou até mesmo uma ponte, como você preferir. Externo e interno interligados. Arejar, ventilar, exalar, tudo junto e ajustado em uma sincronia inconsciente. Mas eu quero que agora você tenha consciência disso. O ar entra, o ar sai. Essa troca nos renova as ideias, nos recalibra de algum modo. Preste atenção.
Os pulmões se enchem, a caixa torácica se expande e sobe. O abdome se expande também. O diafragma desce e toda aquela fisiologia se repete e se repete desde o primeiro momento. O sopro divino do primeiro segundo do universo. Sopro de vida nos jardins do Éden.
A primeira respiração de um humano. O ar substitui o líquido e o recém-nascido chora. Esta primeira respiração é a partida da vida. O começo do caminho. Então, repetimos e repetimos. O ar entra, o ar sai.
Tudo nisso envolve fluxo e refluxo. Volumes que se alteram, alvéolos em sintonia. Respirar é trocar você por um outro, que também é você só que mais arejado. Janela aberta, carro deslizando na estrada, seu braço para fora brincando de alguma coisa que voa, a mão surfando no espaço. Respirando aquele ar que entra. Fluxo constante.
Aí vem uma nova respiração enquanto eu escrevo. Respiro, espero no ar as palavras que vão chegando sem que eu perceba. O ar trazendo palavras e pensamentos. Um momento atrás e nada disso estava aqui. Agora está. O ar entra e o ar sai.
Não é à toa que focar na respiração é o principal exercício quando aprendemos a meditar. Por que quase nunca prestamos atenção nisso? Por que nunca (nunca mesmo) agradecemos pelo ar que inspiramos?
A respiração é automática, por motivos evolutivos e fisiológicos, ninguém deve parar para lembrar de respirar. Respiramos dormindo e tudo bem. Mas justamente por isso, quando nos concentramos nela descobrimos coisas interessantes. Conseguimos organizar melhor nossos pensamentos. Deixar um pouco de lado a pressa e a ansiedade de resolver as coisas. No momento em que percebemos o ar que entra e sai, é como se tudo ficasse em câmera lenta. Não é tão difícil quanto parece.
O ar entra e o ar sai. As plantas nos ajudam muito nisso. As algas mais ainda. O ar é o oceano transformado em gás. O oceano onde estamos mergulhados também, que me perdoem os peixes. É o fluxo e refluxo das marés. As ondas indo e vindo. O ar entrando e saindo. Tudo conectado.
As células recebem oxigênio. O oxigênio vem do ar. O ar está em toda parte, onipresente nessa nossa atmosfera. Ainda assim, uma camada tão sutil quando vista do espaço. Sutil como o próprio ar que nela habita. Sútil como uma inspiração. O ar entra e o ar sai. Respire então, apenas respire.
Dr. Carlos Eduardo dos Santos Martins – Médico Anestesiologista – CRM/PR – 20965.