A descoberta da penicilina

A penicilina foi descoberta em 1928 pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming, quando saiu de férias e esqueceu algumas placas com culturas de micro-organismos em seu laboratório no Hospital St. Mary, em Londres. Quando voltou, reparou que uma das suas culturas de Staphylococcus tinha sido contaminada por um bolor, e em volta das colônias dele não havia mais bactérias.  Assim, Fleming e seu colega, Dr. Pryce, descobriram o fungo do gênero Penicillium e demonstraram que ele produzia uma substância responsável pelo efeito bactericida: a penicilina. Esta foi obtida em forma purificada por Howard FloreyErnst Chain e Norman Heatley, da Universidade de Oxford, 12 anos depois, comprovadas as suas qualidades antibióticas em ratos infectados, assim como a sua não-toxicidade. Em 1941 os seus efeitos foram demonstrados em humanos. Em 1922 Fleming já descobrira uma substância antibacteriana na lágrima, na saliva, na clara do ovo e em algumas secreções animais, a qual dera o nome de lisozima.

O primeiro homem a ser tratado com penicilina foi um agente da polícia que sofria de septicemia com abcessos disseminados, uma condição geralmente fatal na época. A infecção foi decorrente de um ferimento provocado pelo espinho de uma rosa. Ele melhorou, mas não havia penicilina suficiente para alcançar a cura, mesmo a recuperando da própria urina. Acabou por falecer. Em 1945, Fleming, Florey e Chain receberam o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina por este trabalho.  A descoberta de Fleming não despertou inicialmente maior interesse e não houve a preocupação em utilizá-la para fins terapêuticos em casos de infecção humana até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, quando salvou milhares de vidas de soldados.

Após um grande número de experiências, verificou-se que a descoberta da penicilina só se tornou possível graças a uma série inacreditável de coincidências, quais sejam: o fungo que contaminou a placa, como se demonstrou posteriormente, é um dos três melhores produtores de penicilina dentre todas as espécies do gênero Penicillium; o fungo contaminante teria vindo pela escada do andar inferior, onde se realizavam pesquisas sobre fungos; o crescimento do fungo e dos Staphylococcus  se fez lentamente, condição necessária para se evidenciar a lise bacteriana. No mês de agosto daquele ano, em pleno verão, sobreveio uma inesperada onda de frio em Londres, que proporcionou a temperatura ideal ao crescimento lento da cultura.  A providencial entrada do Dr. Pryce no laboratório permitiu que Fleming reexaminasse as placas contaminadas e observasse o halo transparente em torno do fungo, antes de sua inutilização. Apesar de todas essas felizes coincidências, se Fleming não tivesse a mente preparada não teria valorizado o halo transparente em torno do fungo e descoberto a penicilina.

Dr. Márcio Couto – Médico Cardiologista – CRM-PR 14933 – Membro da diretoria da AMC.